segunda-feira, 17 de agosto de 2009

APESAR DE TUDO

Eu sou espaçosa demais e falo muito alto. Eu sou inflexível com minhas opiniões. Quando eu gosto de alguém eu gosto demais e quando não, sou totalmente indiferente. Eu sou intensa em minha relações. Meu quarto é bagunçado, mas meus livros são organizados por tamanho. Escrevo cartas e textos e jogo fora. Eu analiso as coisas mais do que o normal. Eu sou crítica com gostos artísticos. Eu sou daqueles que acham que as coisas só saem perfeitas quando sou eu que faço. Eu ainda quero um príncipe encantado. Eu gosto de pessoas autênticas, odeio ser copiada. Eu gosto de trabalhar. Eu tenho pensamentos que só fazem sentido pra mim e eu faço coisas que eu não entendo. Eu tenho mais de 20 anos.Eu não costumo deixar que me vejam chorando. Eu faço planos impossíveis. Eu não acredito no meu potencial como escritora, mas escrevo melhor do que falo. Eu sou impaciente com algumas pessoas que amo e paciente demais com desconhecidos. Eu me alimento mal. Eu reparo nos detalhes e esqueço o essencial. Na verdade, eu esqueço tudo. Eu não sou legal no msn. Eu me revelo aos poucos. Meu cabelo não me ama. Minhas pernas são finas. Eu não tenho emprego. Eu sou perfeccionista. Eu sou moleca demais pra minha idade e quero crescer assim. Eu sou muito distraída. Eu sou completamente romântica. Eu durmo tarde. Eu acordo tarde. Eu odeio biologia. Eu demora pra me apaixonar de verdade e invento paixonites pra me distrair. Eu odeio pagode, mas se tocar eu danço. Eu vou ao cinema sozinha. Eu não escuto muito bem. Eu não faço questão de flores. Eu faço questão de cartas. Eu sempre me sinto despreparada. Eu falo muita besteira. Eu compro coisas fúteis. Eu transformo tudo em letra. Eu leio menos livros que gostaria. Eu desperdício meu tempo com besteiras. Eu falo errado quando estou sob pressão. Eu sou desafinada. Eu não sei tocar nenhum instrumento. Eu tenho dívidas. Eu tenho dúvidas. Eu só sou bonita maquiada. Eu não sei contar piadas, nem resumir filmes.

Essa é a menor das listas sobre mim. E se você ainda tem dúvida.. eu não a fiz pra facilitar a alguém. A faço somente pra mim e percebo um segredo. Eu talvez até entenderia se eu não fosse amada. Há mais do que motivos plausíveis.

E como ser comprada por um alto preço? E como entender que mesmo assim sou aceita? E como ainda ser amada?

Pior, como conhecer a si mesmo e se achar digno?

Eu muitas vezes fujo da difícil compreensão sobre a realidade de quem eu sou. Mas depois de se perceber um pouco não há como se esconder da grandeza do que é sermos aceitos apesar de tudo.

Quando reconhecemos as falhas de alguém às vezes se torna bem difícil conviver com esse alguém. Mas então quando reconheço quem sou, percebo o quanto tenho dificultado a vida dos que estão por perto.. mas agora imagine eu, que convivo 24h do dia comigo mesma! haha

É nessa hora que eu percebo o quanto preciso dEle sabe. E eu preciso tanto que até dói. E o fato dEle me aceitar ainda assim é uma verdade que me incomoda. Eu não mereço esse amor!

Não mereço, mas preciso urgentemente.

E no final eu começo a entender o presente que ele nos dá. A graça. E a graça é nada menos que ser você e apesar de tudo, ainda ser chamado de filho querido.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Relendo na poltrona

Ontem à noite eu reli O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, e de repente (não muito mais que isso) eu (re)lembrei o que me deixa tão fascinada por livros. Não é só o conhecimento que ganho com ele, nem a deliciosa distração que me cai bem num dia monótono, nem mesmo o peso na sacola e o cheiro que me enche de nostalgia, mas são principalmente as sensações... sim, as mais diversas sensações e suas loucas variações de intensidades que experimento naquele momento e que até se entendem por alguns segundos, minutos ou dias até e fazem com que até o ato de lavar a louça se torne algo muito suportável (hehe).

Certas sensações me fizeram repensar sobre algo que trago em meu coração que, por mais piegas que seja admitir isso, precisamos ser como crianças, pensar e sentir como crianças. O nosso cotidiano tem nos podado esse segredo, mas isso não significa que não possamos procurá-lo, que não possamos redescobri-lo ou abrir os nossos ouvidos para escutar daqueles que já alcançaram essa graça.

Eu sei por mim, que creio ter descoberto em mim uma visão infantil de como perceber o mundo. São como novas lentes. Trata-se de ser muito mais sensível e se despojar de muitos conceitos já tão batidos em nosso redor e trocá-los por outros mais coloridos, com riscos mais ousados e falas menos ensaiadas. É abrir seus olhos para entender o que se passa além daquelas formas e de repente perceber cheiro nas cores e tons de azul numa melodia. Só uma criança de verdade pode entender isso.

Trata de se desapegar às formas, o essencial é invisível aos olhos.


“As pessoas vêem estrelas de maneiras diferentes. Para aqueles que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve (...) tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir” [O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry]



[Garanto que esse papo vai se estender por alguns posts até o assunto envelhecer. Há muito o que se falar.]