sábado, 26 de dezembro de 2009

lenço esquecido na gaveta

'mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido'

caio f. abreu

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A visão


Então esse cara chega pra mim e diz: “qual é a visão? Qual é a idéia?”. Eu abro minha boca e é assim que as palavras saem...

A Visão?
A visão é Jesus – obsessivamente, perigosamente, inegavelmente Jesus. A visão é um exército de gente jovem. Você vê ossos? Eu vejo um exército. E eles são LIVRES do materialismo. Eles riem diante de prisões burocráticas. Eles comeriam caviar na segunda e pão velho na terça. Eles nem notariam. Eles são móveis como o vento: eles pertencem às nações. Eles não precisam de passaporte. Eles escrevem seus endereços a lápis e se admiram de sua estranha existência. Eles são livres mas são escravos dos sujos, dos que sofrem e dos que morrem.

Rasgar
Qual é a visão? A visão é santidade que fere os olhos. Faz uma criança rir e deixa os adultos fulos da vida. Desistiu do jogo da integridade mínima já faz muito tempo para alcançar as estrelas. Ela ri do bom e se esforça pelo melhor. É perigosamente pura. Luz entrecorta cada motivo secreto, cada conversar particular. Ama as pessoas para longe dos seus pulos suicidas, seus jogos satânicos.

Este é um exército que desistirá de tudo pela causa. Um milhão de vezes por dia, seus soldados escolhem perder para que um dia possam ouvir o “Muito bom, fiéis filhos e filhas”. Esses heróis são tão radicais na segunda de manhã quanto no domingo à noite. Eles não precisam da fama de nomes. Em vez disso, eles discretamente sorriem olhando para cima e ouvem o grito do povo de novo e de novo, “VENHAM!”.

E o exército é disciplin(discipul)ado. Jovens que escravizam seus corpos à submissão. Cada soldado levaria uma bala por seu colega de armas. As tatuagens nas suas costas dizem “para mim, viver é Cristo e morrer é lucro!”. É o sacrifício que alimenta o fogo da vitória nos seus olhos voltados para cima. Ganhadores. Mártires. Quem pode pará-los? Podem os hormônios segurá-los? Pode o falhar vencer? Pode o medo amedrontá-los ou a morte obliterá-los? E essa geração ORA como um homem às portas da morte, com gemidos que vão além das palavras, com gritos de guerra, lágrimas sulfurosas e com doses cavalares de risadas! O que for preciso eles darão. Quebrando as regras. Sacudindo a mediocridade das costas. Desistindo dos seus direitos e de seus pequenos males, tão preciosos, rindo dos rótulos, jejuando essencialidades. Os marqueteiros não conseguem moldá-los. Hollywood não consegue segurá-los. Pressão de grupo é impotente para fazer tremer sua resolução em festas de fim de noite antes que o galo cante. Eles são incrivelmente legais, e perigosamente belos por dentro. Por fora? Eles mal se importam. Eles vestem a roupa como uma fantasia para comunicar e celebrar, e nunca para se esconder.

Eles entregariam sua imagem ou popularidade? Eles entregariam suas próprias vidas – trocariam de lugar com o homem no corredor da morte, culpado como o inferno. Um trono por uma cadeira elétrica. Com sangue e suor e muitas lágrimas, com noites mal-dormidas e dias infrutíferos, eles oram como se tudo dependesse de Dues e vivem como se tudo dependesse deles. Seu DNA escolhe JESUS (ele expira, eles inspiram).

Seu subconsciente canta. Eles fizeram uma transfusão de sangue com Jesus. Suas palavras fazem os demônios gritarem nos shoppings. Você não os OUVE chegando? Vivas aos esquisitos! Chamando os losers e os desajustados. Aqui vem os amedrontados e esquecidos com fogo nos olhos! Eles andam com a cabeça erguida e as árvores aplaudem, os prédios fazem mesuras, as montanhas são tapadas por essas crianças de outra dimensão. Suas orações atraem as criaturas celestiais e invocam o Sonho do Éden. E essa visão será. Ela será verdade; ela virá fácil; ela virá logo. Como sei? Porque essa é a saudade da própria criação, o gemer do Espírito, o próprio sonho de Deus. Meu amanhã é o hoje dEle. Minhas esperanças longínquas são o 3D dele. E minha oração, frágil e sussurrada sem fé, provoca um AMÈM!!! trovejante, que ressoa e faz tremer os ossos por parte de incontáveis anjos, dos heróis da fé, de Cristo em si. E ele é o sonhador original, o ganhador final. Garantido!

Billy Kennedy

terça-feira, 8 de setembro de 2009

explicações na poltrona

estou num processo de digestão. às vezes preciso de um tempinho pra renovar o repertório. tento não fazer disso uma obrigação. é uma pena deixar isso às moscas.. mas vamos levando!

talvez demore, talvez amanhã mesmo eu esteja de volta.

beijos. até já ou um dia!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

APESAR DE TUDO

Eu sou espaçosa demais e falo muito alto. Eu sou inflexível com minhas opiniões. Quando eu gosto de alguém eu gosto demais e quando não, sou totalmente indiferente. Eu sou intensa em minha relações. Meu quarto é bagunçado, mas meus livros são organizados por tamanho. Escrevo cartas e textos e jogo fora. Eu analiso as coisas mais do que o normal. Eu sou crítica com gostos artísticos. Eu sou daqueles que acham que as coisas só saem perfeitas quando sou eu que faço. Eu ainda quero um príncipe encantado. Eu gosto de pessoas autênticas, odeio ser copiada. Eu gosto de trabalhar. Eu tenho pensamentos que só fazem sentido pra mim e eu faço coisas que eu não entendo. Eu tenho mais de 20 anos.Eu não costumo deixar que me vejam chorando. Eu faço planos impossíveis. Eu não acredito no meu potencial como escritora, mas escrevo melhor do que falo. Eu sou impaciente com algumas pessoas que amo e paciente demais com desconhecidos. Eu me alimento mal. Eu reparo nos detalhes e esqueço o essencial. Na verdade, eu esqueço tudo. Eu não sou legal no msn. Eu me revelo aos poucos. Meu cabelo não me ama. Minhas pernas são finas. Eu não tenho emprego. Eu sou perfeccionista. Eu sou moleca demais pra minha idade e quero crescer assim. Eu sou muito distraída. Eu sou completamente romântica. Eu durmo tarde. Eu acordo tarde. Eu odeio biologia. Eu demora pra me apaixonar de verdade e invento paixonites pra me distrair. Eu odeio pagode, mas se tocar eu danço. Eu vou ao cinema sozinha. Eu não escuto muito bem. Eu não faço questão de flores. Eu faço questão de cartas. Eu sempre me sinto despreparada. Eu falo muita besteira. Eu compro coisas fúteis. Eu transformo tudo em letra. Eu leio menos livros que gostaria. Eu desperdício meu tempo com besteiras. Eu falo errado quando estou sob pressão. Eu sou desafinada. Eu não sei tocar nenhum instrumento. Eu tenho dívidas. Eu tenho dúvidas. Eu só sou bonita maquiada. Eu não sei contar piadas, nem resumir filmes.

Essa é a menor das listas sobre mim. E se você ainda tem dúvida.. eu não a fiz pra facilitar a alguém. A faço somente pra mim e percebo um segredo. Eu talvez até entenderia se eu não fosse amada. Há mais do que motivos plausíveis.

E como ser comprada por um alto preço? E como entender que mesmo assim sou aceita? E como ainda ser amada?

Pior, como conhecer a si mesmo e se achar digno?

Eu muitas vezes fujo da difícil compreensão sobre a realidade de quem eu sou. Mas depois de se perceber um pouco não há como se esconder da grandeza do que é sermos aceitos apesar de tudo.

Quando reconhecemos as falhas de alguém às vezes se torna bem difícil conviver com esse alguém. Mas então quando reconheço quem sou, percebo o quanto tenho dificultado a vida dos que estão por perto.. mas agora imagine eu, que convivo 24h do dia comigo mesma! haha

É nessa hora que eu percebo o quanto preciso dEle sabe. E eu preciso tanto que até dói. E o fato dEle me aceitar ainda assim é uma verdade que me incomoda. Eu não mereço esse amor!

Não mereço, mas preciso urgentemente.

E no final eu começo a entender o presente que ele nos dá. A graça. E a graça é nada menos que ser você e apesar de tudo, ainda ser chamado de filho querido.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Relendo na poltrona

Ontem à noite eu reli O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, e de repente (não muito mais que isso) eu (re)lembrei o que me deixa tão fascinada por livros. Não é só o conhecimento que ganho com ele, nem a deliciosa distração que me cai bem num dia monótono, nem mesmo o peso na sacola e o cheiro que me enche de nostalgia, mas são principalmente as sensações... sim, as mais diversas sensações e suas loucas variações de intensidades que experimento naquele momento e que até se entendem por alguns segundos, minutos ou dias até e fazem com que até o ato de lavar a louça se torne algo muito suportável (hehe).

Certas sensações me fizeram repensar sobre algo que trago em meu coração que, por mais piegas que seja admitir isso, precisamos ser como crianças, pensar e sentir como crianças. O nosso cotidiano tem nos podado esse segredo, mas isso não significa que não possamos procurá-lo, que não possamos redescobri-lo ou abrir os nossos ouvidos para escutar daqueles que já alcançaram essa graça.

Eu sei por mim, que creio ter descoberto em mim uma visão infantil de como perceber o mundo. São como novas lentes. Trata-se de ser muito mais sensível e se despojar de muitos conceitos já tão batidos em nosso redor e trocá-los por outros mais coloridos, com riscos mais ousados e falas menos ensaiadas. É abrir seus olhos para entender o que se passa além daquelas formas e de repente perceber cheiro nas cores e tons de azul numa melodia. Só uma criança de verdade pode entender isso.

Trata de se desapegar às formas, o essencial é invisível aos olhos.


“As pessoas vêem estrelas de maneiras diferentes. Para aqueles que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve (...) tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir” [O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry]



[Garanto que esse papo vai se estender por alguns posts até o assunto envelhecer. Há muito o que se falar.]



quarta-feira, 29 de julho de 2009

29 - 07

é certo que não me calarei. contarei a história maravilhosa, até que percebam que a hora de dormir não se pode evitar.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Esperas na poltrona

Se existe algo que sempre em mim foi comum, mas que hoje a percebo de forma diferente, esse algo é o tal do esperar. Em todo momento eu estive esperando muito por algo. Acho que isso me é tão comum, que podem até achar que isso me cai bem. Acredito que, embora a mencionem bem mais que eu e me cobrem resultados, chegam a concordar que isso em mim é bem habitual, que já quase deixo de me importar. Não que a tenha como preferível, mas só o fato de mencioná-la sem rodeios, lhe pode revelar coisas secretas sobre a minha forma atual de aceitação da espera. Penso que esperar passa a não soar à sacrifício quando se sabe o valor do que se espera e esse valor se justifica na espera.



Sim, eu acho que existe algo de muito grande esperando por mim e cada vez que eu lamento a sua demora, provo que não tenho a mínima noção do seu valor e que não a mereço nesse exato momento de desconfiança, o que significa talvez mais um tempo sentada. É, definitivamente não vale a pena.



Posso até ter me acostumado demais; talvez tenha amadurecido; talvez não tenha outra opção; ou talvez tenha entendido a moral da coisa, sei lá, mas hoje eu sei que posso esperar e consigo até sentir um certo prazer nisso. O segredo se encontra um pouco na minha expectativa.



Eu sempre coloquei expectativas excessivas em tudo.. coisas, pessoas, momentos. E muito embora já tenha me dado mal nessas investidas, ainda ouso achar que isso não é de todo prejudicial. Eu entendo minhas expectativas como uma formulação da minha fé.



Eu acredito tão demasiadamente na minha vida, que por mais que ela não seja nenhum tipo de filme, eu aguardo sempre por uma espécie de final de feliz.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Trechos saturadamente relidos na poltrona

"Pedi assombro, e ele me concedeu. Um burguês sem imaginação irá cutucar o nariz diante de uma pintura de Claude Monet; uma pessoa cheia de assombro ficará ali em pé tentando segurar as lágrimas.

De modo geral, o mundo perdeu o senso de assombro. Crescemos. Já não perdemos o fôlego diante de um arco-íris ou do perfume de uma rosa, como acontecia antes. Ficamos maiores e todo o resto ficou menor, menos impressionante. Tornamo-nos apáticos, sofisticados e cheios da sabedoria do mundo. Não deslizamos mais os dedos sobre a água, não gritamos mais para as estrelas nem fazemos caretas para a lua. Água é H2O, as estrelas foram classificadas e a lua não é feita de queijo. Graças à televisão via satélite e aos aviões a jato, podemos visitar lugares que no passado eram acessíveis apenas por Colombo, Balboa e outros exploradores intrépidos.

Houve um tempo, não muito distante, em que uma tempestade fazia um homem adulto estremecer e sentir-se pequeno. Deus, no entanto, está sendo deixado de lado pelo mundo da ciência. Quanto mais sabemos sobre meteorologia menos inclinados nos tornamos a orar durante uma tempestade. Os aviões voam agora acima, abaixo e entre elas. Os satélites reduzem-nas a fotografias. Que ignomínia — se é que uma tempestade pode experimentar a ignomínia — reduzida de teofania a mero incômodo.

Heschel diz que hoje cremos que todos os mistérios podem ser resolvidos, e que todo o assombro não passa do "efeito que o novo imprime sobre a ignorância". Certamente o novo é capaz de nos impressionar: um ônibus espacial, o jogo mais recente de computador, a fralda mais macia. Até amanhã, até que o novo se torne velho, até que a maravilha de ontem seja descartada ou tomada como coisa certa. Não é de admirar que o rabino Heschel tenha concluído: "A medida que a civilização avança, o senso de assombro declina".

Ficamos tão preocupados conosco, com as palavras que falamos e com os planos e projetos que concebemos, que nos tornamos imunes à glória da criação. Mal notamos a nuvem que passa sobre a lua ou as gotas de orvalho nas folhas da roseira. O gelo cobrindo o lago vem e vai. As amoras silvestres amadurecem e murcham. A graúna faz seu ninho do lado de fora da nossa janela e não a vemos. Evitamos o frio e o calor. Refrigeramos a nós mesmos no verão e sepultamo-nos debaixo de plástico no inverno. Rastelamos cada folha assim que ela cai. Estamos tão acostumados a comprar carne, aves e peixe pré-embalados no supermercado que nunca paramos para pensar sobre a liberalidade da criação de Deus. Tornamo-nos complacentes, vivendo vida prática. Perdemos a experiência do assombro, da reverência e da maravilha.[1]

Nosso mundo é saturado com graça, e a presença furtiva de Deus é revelada não apenas no espírito mas na matéria num gamo que atravessa aos saltos uma campina, no vôo de uma águia, no fogo e na água, num arco-íris após uma tempestade, numa corsa gentil correndo pela floresta, na nona sinfonia de Beethoven, numa criança lambendo um sorvete de chocolate, no cabelo ao vento de uma mulher. Deus queria que descobríssemos sua presença amorosa no mundo a nosso redor".

[O Evengelho Maltrapilho - Brennan Manning]